domingo, 4 de julho de 2010

                                            A vida do lavrador


   Vou contar a minha vida 
   Este dia hoje chegou.
   Peço que ninguém ignore;
   Se quiser as provas eu dou.
   Vida triste sem alegria ,
   É a vida do lavrador.
   É a classe que mais trabalha
   e a que menos tem valor

   A vida do lavrador 
   É uma vida sem alegria;
   Vive morto no trabalho;
   Não tem noite e não tem dia 
   Ainda sofrendo desgosto
   Com doença na família;
   Sem recurso pra tratar
   Porque não tem garantia
 
   O lavrador planta e capina
   Correndo o suor no rosto,
   Quando é o fim do ano,
   Ele só colhe é desgosto.
   quem colhe é quem vive à toa
   De gravata no pescoço.
   Se Jesus Cristo não dá um jeito,
   O lavrador está morto.

   A vida do lavrador 
   É cheia de desespero;
   Quando chega perto do médico
   Ele já conhece que é um cavuqueiro
   Só olha a língua e o olho
   Cobra trinta mil cruzeiros;
   Mais vinte vai na farmácia;
   É o custo do lombrigueiro

   Quando custa a pagar as contas,
   Qualquer um dos lavradores
   É todo mundo a dizer
   Que eles são mal pagadores.
   Os ricos que devem e não pagam,
   Todos dizem que atrapalhou.
   Acaba que quem tem razão,
   É somente o explorador.

   Os fazendeiros hoje em dia 
   Parece não ter coração,
   Uma roça de dez anos é na meia,
   Ainda com toda imposição;
   Se o ano não corre bem
   Para vingar a plantação,
   Eles ainda saem dizendo


   Os atravessadores e os intermediários 
   Têm seus filhos todos formados,
   Tem engenheiro, tem médico,
   Tem juiz e advogado,
   Não toma chuva nem sol,
   Vivem nas cadeiras sentados
   Só esperando as colheitas
   Para roubar dos coitados.

   Por isso ninguém vai para a roça,
   Porque sabe que a coisa lá é feia;
   É mesmo por este motivo
   Que a cidade vive cheia.
   Uns roubando, outros estuprando,
   Outros tratando da vida alheia.
   É por estas e outra razões
   Que a cadeia vive cheia.

   Eu queria ter o poder,
   Ao menos por vinte e quatro horas,
   Para fazer da lavoura
   O hino mais lindo da história;
   Esparramando sacarias 
   Por meio da lavoura afora,
   Para tirar da miséria
   Este país cheio de glória.

   Adeus minha rocinha velha,
   Adeus minha enxadinha dragão,
   Você nunca mais terá prazer
   De fazer calo na minha mão.
   Voou embora para a cidade,
   Vou viver de exploração,
   Com gravata no pescoço
   E uma pasta velha na mão.

   Termino pedindo desculpa
   Se alguém eu agravei,
   Se a verdade for castigo,
   Castigado não serei,
   Por que tudo que escrevi,
   Na vida eu já passei.
   Sobre a vida da cidade,
   É só aquilo que eu falei.


                                  João dos Santos



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